
Neste sábado, dia 2 de abril, é o Dia Mundial da Conscientização do Autismo e um assunto tabu, apesar dos aproximadamente dois milhões de pessoas diagnosticadas no Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil, é a vida profissional.
O engano do mundo corporativo é acreditar que o autismo é um limitador da inteligência e da comunicação, já que a realidade é bem diferente. Pessoas com autismo leve, antes conhecido como Síndrome de Asperger, têm inteligência normal e, cerca de 10% dos autistas diagnosticados, pontuam bem acima do normal nos testes de QI.
"Se as empresas soubessem disso, contratariam autistas de olhos fechados. Eles aprendem mais rápido, são focados e meticulosos no que fazem", pontua Eliane Massa, psicóloga especialista em TEA. "Quando estão em hiperfoco podem aumentar exponencialmente a produtividade, basta que estejam na carreira certa".
No Brasil, toda empresa com 100 funcionários ou mais é obrigada por lei a ter de 2% a 5% dos seus cargos preenchidos por pessoas com deficiência. É o que prevê o artigo 93 da Lei nº 8.213/91, também conhecida como Lei de Cotas, que apesar de seus quase 30 anos ainda não é plenamente cumprida.
Estudos recentes, desenvolvidos na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, questionam as evidências que apontam a alta taxa de ocorrência de Deficiência Intelectual (DI) no Transtorno do Espectro Autista.
Para a pesquisadora Daniela Teixeira Gonçalves, 31 anos, essa evidência é questionável, uma vez que, de modo geral, os testes de inteligência, como por exemplo, as Escalas Wechsler de Inteligência, pressupõem a habilidade imaginativa de compreender e/ou produzir a linguagem, habilidade essa, frequentemente deficiente no autismo. A conclusão, portanto, é de que seria possível, ao utilizar esses testes, subestimar a inteligência deles, que é lógica.
Daniela Gonçalves é psicóloga, doutora em cognição e comportamento pela UFMG, e explica que essa subestimativa ocorre porque a capacidade de uma avaliação exata estaria comprometida pela falta de instrumentos adequados, além do pouco conhecimento sobre o autismo.
Autismo é genético
Os casos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) em adultos cresceu muito nos últimos anos. Porém, não significa que estejam nascendo mais autistas que antes. Agora os adultos autistas estão se descobrindo através do diagnóstico recebido pelos filhos, já que o TEA é genético.

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Josnaldo Paes, o Nanau, de 51 anos, foi diagnosticado autista leve há alguns meses. Ele conta que detectou no filho algumas caraterísticas que tinha ouvido falar e começou a estudar o assunto. "Notei então que eu mesmo apresentava diversas caracteristicas. Quando comecei o trabalho com a psicóloga para fazer um laudo para ele, afim de apresentar na escola, ela me alertou que eu também estava no espectro".
Nanau conta que com o diagnóstico pode "entender que muita coisa que me incomodava e desgastava, não era frescura. Que o fato de eu não entender o que as pessoas falavam não era porque eu era surdo, mas porque muitos sons simultâneos se tornam uma cacofonia em minha mente. Com isso comecei a evitar ambientes e situações que me desgastavam sem que eu entendesse o porquê, como supermercados e lugares com muitas pessoas".
Segundo ele, que trabalha com Tecnologia da Informação em uma multinacional em Indaiatuba, "o motivo do meu excesso de organização e dedicação e a necessidade de executar uma tarefa da forma mais perfeita possível e não descansar até vê-la concluída, faz parte do que sou e não por ser workaholic". Os hiperfocos (assuntos de preferência e dedicação total do autista) de Paes são seu trabalho, jogos e motos.
O diagnóstico foi positivo para Nanau, que finalmente pode "compreender profundamente e entender a razão como ajo e reajo a cada situação. Foi libertador". Perguntado se sentiu preconceito das pessoas em relação ao diagnóstico, ele afirmou que "As pessoas nem percebem que são preconceituosas. Já me disseram para 'não atrair' essas coisas para mim e que eu não parecia doente. Parte desse preconceito se deve também justamente à falta de informação sobre o espectro, ainda encarado como uma deficiência mental incapacitante".
Para o autista em seu ambiente de trabalho, há a dificuldade de suportar barulhos constantes e em alguns momentos atrapalha na tomada de decisões práticas quando se encontra sobre ambiente estressante, com sons e aglomerações.
"Não senti diferença na execução do meu trabalho depois de receber o laudo, entretanto agora eu me respeito mais; uso fones de ouvido em ambientes com ruído e saio da sala quando está muito cheia, com várias pessoas falando ao mesmo tempo, sendo que antes eu me obrigava a ficar no ambiente porque considerava que deveria socializar", pontua.
Sinais de autismo em adultos
O diagnóstico é fechado através de um tripé de sinais que inclui, ao mesmo tempo, dificuldades de interação social, problemas de comunicação social e comportamentos repetitivos e restritos. O perfil cognitivo do indivíduo autista é marcado pela presença de déficits em sua integração social, raciocínio abstrato, tarefas que demandam habilidades de compreensão social e raciocínio verbal.
Igualmente, não é fácil demonstrar ou receber afeto, interagir com outras pessoas e manter relacionamentos. Podemos notar, inegavelmente, a presença de gestos repetitivos ou expressões verbais atípicas; apego a rotinas e/ou padrões ritualizados de comportamento.